Nelson Fontana, corretor de seguros e advogado

Durante os últimos anos os operadores do Mercado de Seguros foram “ameaçados” diariamente pela ex-superintendente da SUSEP que dizia que o “trator” liberal do Ministério da Economia tinha chegado para acabar com a estrutura cartelizada das seguradoras líderes que, segundo ela, formaram uma muralha em torno do Mercado, em conjunto com os Bancos e os Corretores de Seguros, restringindo a concorrência e dificultando a entrada de novas seguradoras. As seguradoras lideres, ainda segundo ela, formaram ao longo das últimas décadas, estruturas comerciais de relacionamento com os corretores, fizeram acordos societários com os bancos e promoveram um convívio harmônico e sem agressões entre estes dois canais. A consequência disto foi uma forte concentração de mercado, com os corretores de seguros e os bancos acomodados neste esquema, dificultando imensamente a chegada de “intrusos” querendo entrar neste seleto grupo de seguradoras, exigindo imensos investimentos para angariar produção junto aos corretores ou bancos.

A estrutura de produtos desenvolvida durante os últimos anos, com a participação das antigas gestões da SUSEP, também estaria dificultando a concorrência, coibindo a liberdade para o desenvolvimento de produtos adequados às camadas da população de menor renda. Esta era a impressão que dava a ex-superintendente, quando chegou ao comando do Mercado, junto com a equipe econômica do governo Bolsonaro.

A ex-Superintendente avisou que veio para mudar isto tudo começou para desconcentrar o mercado, incentivando novas seguradoras a entrar na briga; além disto tentou acabar com qualquer legislação referente a distribuição e venda de seguros, para que as seguradoras se sentissem livres e incentivadas a desenvolver canais de distribuição eficientes e modernos, aumentando a concorrência e a penetração dos serviços; e passou a desregulamentar os produtos para que as seguradoras se sentissem livres para desenvolver produtos mais competitivos, inovassem e criassem produtos para disputar os consumidores de baixa renda, entre outras propostas. A partir daí vimos a briga relativa à legislação do corretor de seguros, o Sandbox regulatório incentivando as seguradoras digitais, desregulamentação dos produtos, entre outras medidas.

Obviamente o Mercado reagiu e, aproveitando a falta de habilidade de negociação da superintendente, o que parece ser uma característica do governo Bolsonaro, bem como os resultados práticos inexpressivos, substituíram a superintendente por uma prata da casa, nosso caro Alexandre Camillo, líder dos corretores de seguros paulistas já com grande projeção nacional a partir de sua atuação na diretoria da FENACOR.

O discurso mudou. 

Camillo em seu discurso de posse afirmou que “se empenhará em consolidar o crescimento do Mercado e a SUSEP vai se esforçar para ampliar a percepção de reconhecimento dos efeitos e ganhos do seguro junto ao poder público, político e a sociedade”.

Observem que neste discurso não há qualquer crítica ao Mercado. A falta de penetração dos serviços oferecidos pelo Mercado “se deve à falta de conhecimento do público da importância do seguro”. A falta de concorrência, a cartelização e a concentração do Mercado saíram da pauta.

Esta nova tendência fica muito bem explicada em uma postagem feita por um dos profissionais mais conhecidos do Mercado de Seguros, Fabio Luchetti, que destaca que “quem não dominar tecnologia, a partir de agora, será dominado”; “As seguradoras maduras tem maior facilidade em inovar, em vista sua base de dados, e o cominho é mais pela revolução interna nas seguradoras maduras do que pela revolução no Mercado”; “As Startups ajudam mais como colaboradoras das Seguradoras maduras do que pela disruptura ou conquista de fatias de Mercado”; e, por fim, o discurso ameaçador da venda direta através da tecnologia pode agradar investidores mas, a verdade é que os corretores são o caminho e não o pedregulho”

O Mercado voltou à tranquilidade de antes. Nosso novo Superintendente não focou mais a falta de concorrência, a necessidade de disruptura, a concentração perniciosa e cartelizada como dizia a antiga superintendente. Profissionais que conhecem o Mercado como Luchetti, que dirigiu uma das maiores “seguradoras maduras” da América do Sul, já perceberam a mudança de tom e, em sua mensagem, Luchetti destaca a necessidade das seguradoras líderes se adaptarem à tecnologia, aproveitando suas bases de dados, com ajuda de Startups que, em vez de serem concorrentes das seguradoras, como as fintechs estão fazendo com os “bancos maduros, prestam melhores serviços trabalhando “para” as seguradoras maduras e não contra. Esta é a opinião de Antônio Penteado Mendonça, colunista do Estadão e conhecido especialista em seguros, que defende em seu coluna no jornal que as Insurtechs prestam um melhor serviço auxiliando as seguradoras em vez de querer concorrer com elas, como queria a ex superintendente. Os corretores, com esta nova maré, saem prestigiados, reestabelecendo a confiança na classe e afastando a ideia de venda direta de seguros pelas seguradoras através de sites, aplicativos ou marketplaces, que revolucionaram o mercado de turismo, supermercados, eletrodomésticos e muitos outros, mas o Mercado de Seguros está muito bem sem eles.

O fato, no entanto, é que não interessa o que nós achamos ou gostamos. Os consumidores é que vão dizer como querem fazer seguros, e curiosamente hoje parece que eles realmente não querem contratar seus seguros como compram geladeiras nos marketplaces, mas ainda é cedo para dizer por quanto tempo isto vai continuar e, se o novo mercado que virá continuará sendo dominado pelas seguradoras “maduras”.

As Seguradoras “maduras”, os bancos e os corretores de seguros estão ganhando a partida.  

Este artigo foi escrito por Nelson Fontana, advogado e corretor de seguros, em 29/11/2021. [email protected]

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