FGV lança Instituto para transformar corretores em consultores

A partir de estudos econômicos realizados com base em estatísticas fornecidas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) e conteúdo do blog Sonho Seguro, a Fundação Getúlio Vargas inaugurou o Instituto de Inovação da Área de Seguros, na última sexta-feira, 09/04, no seminário “Seguros: uma reflexão contemporânea”. Como o próprio nome diz, o objetivo é promover as inovações do mercado de seguros no Brasil e também habilitar os novos profissionais do setor nas áreas de tecnologia, soft skills, contratos e novos produtos.

Ao enxergar as profundas transformações que já estão ocorrendo, como o Sandbox, que só se tornou realidade a partir de uma série de medidas de desregulamentação do mercado, e outras que estão por vir, como o Open Insurance, a FGV aceitou o desafio de formar quadros para o setor por entender a importância estratégica do seguro no País. 

“Além de formador de poupança, suas reservas garantem quantias vultosas em riscos e ainda podem pivotar para grandes investimentos”, disse na abertura o presidente da Fundação Carlos Ivan Simonsen Leal. Segundo o professor, o Instituto de Inovação da Área de Seguros tem alguns pilares básicos: “O seguro é desconhecido do grande público. É preciso quebrar essa barreira, oferecer acesso a produtos simplificados, e ampliar a oferta. Outra questão importante é que faltam controles para transformar as reservas do mercado em investimento. E o Brasil vai precisar muito disso para crescer nos próximos anos.  Também temos a judicialização do setor, que em razão do emaranhado de leis impede seu desenvolvimento. É preciso formar quadros para num período de 10 anos podermos ter jurisprudência e adaptar os contratos para um mundo completamente ágil, digital, muito diferente do que vivemos.

Regulação

Solange Vieira, superintendente da Susep, participou do segundo painel e a ênfase de sua apresentação foi a desregulamentação do setor, com a flexibilização das normas e a mudança na oferta de produtos. A Resolução CNSP 407/2021, que dispõe sobre princípios e características gerais para a elaboração e comercialização dos seguros de grandes riscos, juntamente com a Circular nº 621/2021, vieram para corrigir uma antiga distorção: a mesma norma regulamentava as coberturas de grandes riscos e seguros massificados.

Segundo a autarquia, a simplificação da regulação visa possibilitar ao mercado ampla liberdade negocial entre as partes, acabando com a necessidade de registro de informações na Susep.

“Com as oportunidades para o aumento na oferta e diversificação dos produtos – disse Solange Vieira – esperamos estimular também a entrada de novos players no mercado, que tragam ainda mais inovação e tecnologias para o setor. A nova norma estimula criatividade e fortalece a negociação. Nossa expectativa é que os avanços regulatórios que estão sendo promovidos colaborem com o desenvolvimento do setor e aumentem significativamente o acesso da população e das empresas ao mercado de seguros”.

A Superintendente bateu na tecla de que o setor precisa de uma nova entidade de ensino com estatura para prover os corretores de seguros do essencial: capacitação, conexão e empatia. A entidade, segundo a superintendente, tem também o objetivo de atrair a comunidade jurídica para participar dos principais temas relacionados aos contratos de seguros e melhorar a qualidade de serviços do quadro de fiscalização da autarquia, “para que todos acompanhem juntos essa rápida evolução do conhecimento”, disse a superintendente. 

Solange destacou alguns aspectos do novo marco regulatório. “Para gerar competitividade e abrir espaço para novas empresas, precisamos reduzir capitais, reduzir normas para os grandes riscos, incentivar novas formas de seguros, como os intermitentes e os combos, estimular os seguros massificados para ampliar a base de consumidores, avançar com o registro digital da apólice para se ter um banco de dados único do mercado, e por fim, avançar com a implantação do Open Insurance, previsto para o segundo semestre de 2021, a fim de melhorar a experiência do segurado com uma ampla oferta de produtos customizados e uma precificação justa, lógica.

Fortalecimento do setor

Ricardo Simonsen, diretor da Cantral de Qualidade da FGV, destacou em sua palestra que o setor de seguros é estratégico para a agenda de desenvolvimento do Brasil. “Dentre os ingredientes essenciais da receita para um crescimento sustentável estão renda, acesso ao crédito – o Open Banking já chegou – e o seguro como garantidor de riscos, alocador de poupança e mitigador de litígios.”

Simonsen acredita que o Instituto de Inovação da Área de Seguros vem em boa hora justamente para preparar os profissionais de hoje para um novo mercado, que irá ampliar exponencialmente a base de consumidores. “As ferramentas de inovação estão aí – sandbox, blockchaim, Open Banking, novos meios de pagamento, apólices digitais, tudo voltado para ampliar a oferta de microsseguro, a porta de acesso do consumidor ao mercado”. 

Entulho da Regulação

Rafael Scherre, diretor técnico da Susep, disse que um dos inibidores da inovação e os benefícios ao consumidor, é o acúmulo do entulho da regulação. Ao destacar a norma que regulava os seguros de danos, disse: “A mesma norma que valia para o seguros massificados – de celular, carro etc – valia para os seguros de grandes riscos – petroquímicas, usinas hidroelétricas, jatos. No mundo isso não existe!

Rafael destacou que a resolução 382 prevê a capacitação técnica dos profissionais de seguros, ao lembrar da importância de formar e reciclar quadros para um mercado inovador.

Corretor consultor

Maria Alicia Lima Peralta, coordenadora executiva da FGV Conhecimento, ressaltou que os grandes impactos que a tecnologia vai gerar recairão naturalmente sobre os produtos e os processos. “É isso que a Susep está alertando. Os consumidores passarão a ter acesso aos produtos, mas a figura do corretor de seguros é indispensável. Tanto é verdade, que 85% das vendas hoje são convertidas pelo corretor. O que é imprescindível no momento é eliminar o medo do novo. Com o Open Insurance, por exemplo, teremos o compartilhamento de dados. O corretor precisa entender os benefícios desta ferramenta e não se colocar contrário a sua implantação. O consumidor vai precisar da credibilidade dos corretores neste momento, e espera dele um profissional completo, que entenda de outras áreas além da tecnologia, como o Código de Defesa do Consumidor, a Lei Geral de Proteção de Dados, o Sandbox, o blockchain, para citar alguns. Os consumidores esperam contar com um provedor de soluções em seguros, o corretor consultor, que ofereça uma cesta de produtos customizada.”

Segundo Maria Alícia, esse movimento de inovação em seguros surgiu de uma viagem a Londres em 2018, onde 30 países se reuniram para discutir o mercado de seguros. “Na volta, conversamos com o Bacen, com técnicos do Ministério da Economia e com a Susep. Daí começaram a surgir as ideias que viraram resoluções e circulares.”

Rafael Scherre, da Susep, lembrou que neste ritmo de inovação foi publicada recentemente a circular 621, que criou o seguro “combo”, onde produtos como Vida, Auto e Residência poderão ser negociados em uma única apólice. “O Mercado vai passar a oferecer uma carteira de coberturas, como acontece no mercado de investimentos. Haverá uma forte diversificação no setor”, conclui.

O evento foi realizado pelo Canal da FGV no YouTube, e contou com a participação do professor da FGV e ministro do STJ, Marco Aurélio Bellizze, e com o coordenador acadêmico da FGV e ministro do STJ, Antonio Saldanha Palheiro. 

O encerramento do evento virtual contou com a participação do professor da FGV e desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), Ricardo Couto de Castro. 

Fonte: JNS, 12/04/2021.

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