Li uma reportagem muito interessante sobre tendências de negócios nos Estados Unidos, uma matéria boa para quem está pensando em investir aqui no Brasil. O que está acontecendo nos Estados Unidos pode demorar mas acaba chegando por aqui, às vezes um pouco mais tupiniquim que lá, mas chega.
Um bom exemplo de importação de cultura é o hábito dos homens americanos pedirem suas namoradas em casamento ajoelhados com um anel nas mãos. Dentro da nossa cultura, isto deveria ser considerado uma prática machista que inibe que as mulheres combinem seus casamentos, devendo esperar que “eles” tomem a iniciativa. As brasileiras, tradicionalmente não esperam seus namorados se decidirem. Tomam a iniciativa, conduzem a conversa e os dois vão juntos comprar as alianças que “elas” escolhem. Isto é muito mais avançado do que a tradição machista americana, mas, os brasileiros importam tudo e até isto está chegando aqui. Cada vez mais vemos pedidos de casamento à moda de Hollywood como se isto fosse uma evolução. Comentei isto com uma moça recentemente e ela disse que foi pedida em casamento com o noivo de joelhos, com um anel nas mãos, na Disneyworld. Pensei comigo: A brasilidade acabou. Adeus feijoada. Mas, a moça imediatamente disse: “Mas fui eu que escolhi o anel, disse a ele que queria ser pedida em casamento lá na Disney, comprei as passagens de avião e organizei a viagem”. Palmas para ela, um tanto americanizada mas mostrou “que quem manda aqui no Brasil são as mulheres”. Ela gostou da parte do pedido de joelhos e do anel mas ignorou a regra machista americana de que só “ele” pode tomar a iniciativa. Bem brasileira.
De acordo com a reportagem, algumas práticas e produtos já morreram nos Estados Unidos e estão enterrados, apesar de que alguns ainda não perceberam, como: vestir ternos, pagar com cheques, usar mapas impressos de ruas ou estradas, carros com câmbio mecânico, telefones fixos residenciais, banho de sol sem protetor, cartões postais, sapatos femininos com salto alto, pagar com dinheiro, fazer barba todos os dias, pegar taxi na rua, ir a agências bancárias, comprar dispositivos de GPS (sem ser em celulares ou no multimídia de automóveis), computadores desktops, conversar simultaneamente com o interlocutor por voz em celulares ou telefones, calculadoras, relógios despertadores de cabeceira, consertar sapatos em sapateiros, abotoaduras, cartões de visita, rádios, gravatas, balas e drops, ler revistas, flores artificiais, panelas de teflon, DVD (filmes) e CD (musica), chaleiras tradicionais (não elétricas), listas telefônicas, agendas e folhinhas de parede, bobes para cabelo, capa para direção de automóveis, dicionários, faxes, pagers e discos prensados. As empresas relacionadas a estes produtos já faliram ou mudaram de ramo.
Alguns itens são hábitos muito americanos, que estão em extinção, como jogar golfe, cartões com mensagens de aniversário ou comemorações, comer perus no dia de ação de graças, beber café instantâneo e abridores de latas. Todos estes costumes estão deixando de ser praticados por lá, mas são hábitos ou produtos que nunca foram muito populares aqui no Brasil.
Vejam agora a lista dos produtos que estão “entrando” em franca decadência nos Estados Unidos. É um alerta de que negócios ligados a estes produtos e serviços não têm futuro. As empresas ligadas a estes produtos ou atividades não vão bem e tiveram quedas imensas de faturamento nos últimos anos. Achei esta lista bem surpreendente e reveladora. São: TVs a cabo por assinatura, guardanapos de papel, carne vermelha, porcelana fina, motocicletas, venda de imóveis e de automóveis (com crescimento da indústria de aluguel de casas e automóveis), cigarros, loterias, shoppings centers, casinos físicos (substituídos pelos casinos de aplicativos), mercado de Bolsa e ações, consultores financeiros, corridas de cavalos, notebooks, livros físicos, produtos low fat, cereais matinais, conjuntos de joias (anel, colar e brincos), imãs de geladeira e jornal impresso. Todas estas atividades estão em franco declínio nos Estados Unidos. Fiquei surpreso com a inclusão de notebooks nesta lista mas convenhamos que só quem usa profissionalmente os notebooks precisa mesmo deles.
Por fim, a reportagem dizia que existe uma pratica que já foi muito comum nos Estados Unidos, mas que está em franca decadência, caindo em desuso ou, pelo menos, passando a ser praticado por muito menos americanos do que no passado: O Casamento. Os americanos casam muito menos do que casavam. Os números em algumas regiões chegam a mostrar uma queda de até 80% em relação a algumas décadas atrás. Um número imenso de casais simplesmente mora juntos. Mesmo os poucos que se casam, já moram juntos. Não querem ter filhos ou, mesmo com filhos, não dão importância à cerimônia do casamento ou para o fato de continuarem legalmente solteiros. Isto está impactando vários mercados, como os consultores de cerimonias, buffets, floriculturas, fotógrafos, cartórios etc. Está impactando também fortemente o mercado segurador de seguro de vida. Os casais americanos eram grandes consumidores de seguros de vida de longo prazo, com resgate na velhice. Este produto estava muito alicerçado na ideia de que o casal viveria junto para sempre ou pelo menos por muitos anos, o que já não é comum na atual sociedade americana, em que os jovens casam sabendo que seus pais, tios, irmãos e todos seus parentes estão no segundo ou terceiro casamento.
Outras mudanças de hábitos curiosas: Os americanos não sabem mais escrever com letra cursiva, não visitam mais zoológicos, não querem fazer dietas como faziam até recentemente preferindo adotar o vegetarianismo, veganismo ou outras fórmulas, não jogam mais boliche, compram muito menos pacotes de viagem, não compram mais roupas que precisam ser passadas a ferro, não costuram mais em casa, não fazem mais compras para todo o mês em atacarejos preferindo compras frequentes em lojas de conveniência, não querem mais trabalhar das 9 às 17 hs em escritórios e substituíram as corridas nos parques por academias.
Aparentemente os corretores de seguros não estão na lista das atividades em extinção, como os agentes de viagem, consultores de investimento, coach de casamentos, gerentes de agências bancárias, funcionários de locadoras de vídeos, vendedores de discos, CDs e livros e, ainda, os sapateiros. Boa notícia para nós corretores de seguros brasileiros. Nossa atividade ainda tem espaço para atuar e crescer. O seguro que está em decadência nos Estados Unidos, o seguro de vida com resgate, com vigência de pelo menos 20 ou 30 anos, que era o queridinho do mercado segurador americano, sustento de milhares de corretores de seguros que faziam a chamada venda consultiva, nunca foi muito popular no Brasil. As seguradoras estrangeiras especializadas em Seguro de vida que se instalaram aqui, chegam e acham que vão vender muito este seguro, mas sempre tiveram dificuldade com estes produtos no Brasil, principalmente pela visão de curto prazo dos jovens brasileiros, mais preocupados em comprar automóveis e eletrodomésticos financiados ainda que isto comprometa toda sua renda. Já a moda de alugar automóveis, que está chegando por aqui, pode afetar a vida dos corretores especializados em seguro de automóvel, já que estes veículos já saem segurados das lojas, mas a grande maioria dos brasileiros ainda vai continuar a comprar automóveis e segurá-los. O fato dos imóveis passarem a ser alugados, principalmente por empresas e fundos especializados em locação imobiliária, não deve também afetar a vida dos corretores de seguros brasileiros.
Escrito por Nelson Fontana, Advogado e Corretor de Seguros, em 05/04/2024.