Neobancos escondem-se atrás de máscaras para participar do jogo

O surgimento das fintechs em todo o mundo e a ocupação de espaços no sistema financeiro com alguma agressividade inteligente, mexeu no vespeiro dos bancos incumbentes, aqueles que estavam deitados em berço esplêndido e, aqui, ao som do mar e a luz do céu profundo. Num primeiro momento a letargia da incapacidade de reagir ao medir o tamanho: era Davi contra Golias, pra quê então perder tempo?

Depois, veio a fase da negação, olhando o movimento das fintechs e não acreditando que poderiam causar qualquer problema àqueles gorduchos dominantes há séculos. Seguindo os estados da alma atacada, veio a raiva, pois a realidade impôs-se e os bancões perceberam que, aquilo que parecia uma brincadeira de meninos espertos era, na verdade, um movimento altamente profissional e movido por tecnologia que eles — os bancos — jamais teriam imaginado existir.

Não teve jeito. Agora, no estágio da aceitação, os incumbentes, em desespero, partem para o ataque com seus neobancos, uma forte maquiagem tecnológica para a mesma estrutura tradicional. Fintechs não são neobancos, fintechs são empresas de tecnologia financeira que podem tornar-se bancos, aí serão o que se denomina de challenger bank, ou seja, dispõem de licença da autoridade monetária para operar como banco, mas utilizando uma robusta infraestrutura digital e notável agressividade comercial.

No Brasil, os neobancos estão aí como o Next do Bradesco, Superdigital do Santander, o Neon do Votorantim e o Original do grupo J&F (JBS/Friboi), dentre outros. É o esforço para, ao mesmo tempo que buscam ganhar clientela nova, não percam os espaços todos. Mas incumbentes são incumbentes em qualquer lugar, e desfrutam de notável cobertura e proteção da autoridade monetária, através de mecanismos de regulação e privilégios extremamente difíceis de serem derrubados ou controlados. Ainda que haja notável mobilização das fintechs, na essência a proteção vai continuar na espinha dorsal do sistema.

Temos dois grandes temas de mudança de mercado que se aproximam, para observar o comportamento do regulador e dos incumbentes: pagamentos instantâneos e open banking. Ambos os temas terão total vinculação operacional com o Banco Central, que vai desenvolver a espinha dorsal tecnológica, colocando em cena as disputas quase sanguinárias do que virá quando, por exemplo, os pagamentos instantâneos colocarem as maquininhas de cartões na lata do lixo. É certo que os incumbentes vão encontrar saídas e alternativas, pois vão perder os anéis para não perderem os dedos.

Na sequênica, previsto para o primeiro semestre de 2020, a instalação “inicial” do open banking, isto sim iniciativa que oferece significativo perigo para os incumbentes. Na Europa, decorridos mais de quatro anos, o open banking (PSD2) arrasta-se na lentidão premetidada dos grandes bancos, por vezes irritando o regulador local. Não há o que fazer se os incumbentes cruzam os braços para atrasar a derrota. É uma luta desigual e os bancões têm muita força em diversos níveis da hierarquia do poder.

É certo que os neobancos vão continuar escondendo-se por trás de máscaras para poder participar do jogo, mas o nível de agressividade dos challenger banks como o PAGBANK da PAGSeguro, dá a exata medida da força que surge das novas tecnologias e da mentalidade fintech. Afinal, as mudanças são a única certeza que nos aguarda no próximo minuto.

Bora?

P.S.: No final desta tarde, recebo a informação de que o JP Morgan encerrou as atividades do seu banco digital, o FINN. Então, é o fim mesmo. Os neobancos incumbentes não vão conseguir superar as fintechs, ainda que possam conviver por um bom tempo.

Escrito por: José Bueno, 10/09/2019.

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