Mês de prevenção ao suicídio acende as luzes sobre doença que por muito tempo não foi levada a sério, porém se mostra cada vez mais presente
A saúde mundial é preocupante, não apenas pela Covid-19, mas também por doenças relacionadas à mente. De acordo com o Relatório da Felicidade Mundial, elaborado pelo Instituto de Pesquisas Gallup em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), a população está mais triste e sofrendo mais do que nunca com depressão e ansiedade. No Brasil, os dados são mais alarmantes: o País que ocupava a 22ª posição no Ranking Mundial de Felicidade em 2017 caiu para o 41º lugar em 2020, com a menor média desde 2005. Um quadro crítico para uma nação que já ostenta o vergonhoso título de vice-campeã em casos de depressão nas Américas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), com 5,8% da população – perdendo somente para os Estados Unidos –, além de ter 9,3% das pessoas diagnosticadas com síndromes relacionadas à ansiedade.
Uma dessas síndromes é o burnout, também chamado de esgotamento profissional, ou seja, é um estado de estresse extremo e crônico, geralmente provocado por sobrecarga ou excesso de trabalho. Acomete cada vez mais executivos e profissionais em todo o mundo, pessoas muito estudiosas e apaixonadas pelo trabalho, como eu. Se superar significa também extrapolar e, assim como tudo na minha vida, sempre quis fazer e dar mais do que muitas vezes o meu corpo me permitia. Foi quando tive um AVC transitório em decorrência de uma crise de burnout, que, inclusive relato em meu capítulo no livro Mulheres do Seguro, lançado no fim do ano passado.
O cuidado com a saúde mental infelizmente atinge pessoas em todas as fases e idades. Pesquisas recentes concluíram que sintomas de ansiedade e depressão entre crianças e adolescentes dobraram após o início da pandemia. Mas antes da pandemia, algo que já preocupava e agora cresceu ainda mais é o bullying e o cyberbullying, aqueles ataques virtuais na internet. Vemos diversos casos recentes de jovens que tiram a própria vida após sofrer ataques na internet.
Nos casos de bullying precisamos observar tanto quem recebe os ataques, mas também quem ataca, pois todos estão pedindo socorro. O bullying é crime contra a honra enquadrado em vários artigos (difamação, injúria, constrangimento ilegal e ameaça), mas além de buscar ajuda na justiça, a vítima deve encontrar uma ajuda psicológica imediatamente, pois é a causa de muitos suicídios entre os jovens. De acordo com dados recentes, suicídio já está entre a 2ª causa de mortes entre os jovens brasileiros. Pais e responsáveis precisam monitorar não somente o que o seu filho vê e posta, mas também o que ele comenta nas publicações alheias, pois ele pode fazer parte de ataques.
Ninguém está sozinho nessa jornada, ainda que a saúde mental diga respeito a aspectos muito pessoais de cada um. Sendo assim, nunca é suficiente dizer: está tudo bem procurar ajuda. Se você sente uma dor em seu corpo, não espere essa dor se tornar insuportável para buscar um médico e descobrir o que está acontecendo. O mesmo se dá com a saúde mental. Não precisamos esperar que a vida pare ou fiquemos paralisado diante da vida para buscar ajuda.
Diante de um dia ruim, podemos buscar ajuda com alguém de confiança, com quem possamos dividir os sentimentos que nos incomodam. Nem sempre é preciso ir a um psiquiatra para começar a buscar ajuda emocional, podemos buscar espaços com as pessoas que gostamos e que podem nos cuidar em momentos de crise. É fundamental colocar a saúde mental em um lugar diferente da urgência.
Caso você esteja preocupado com alguém, é imprescindível mostrar que genuinamente se importa e que está disposto a ajudar. Converse, proteja, busque ajuda. O Centro de Valorização da Vida faz um ótimo trabalho pelo telefone, as ligações são gratuitas pelo número 188.
Escrito por: Stephanie Zalcman, Diretora Técnica de Operações e Estruturação da Wiz Soluções em Seguros e embaixadora da Sou Segura (Associação das Mulheres no Mercado de Seguros) , 22/09/2021.