Nas primeiras horas desta terça-feira (14/12), equipes da Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF) da Polícia Civil do Distrito Federal deflagraram uma operação para desarticular uma associação criminosa especializada em forjar acidentes automobilísticos e receber altos valores pagos pelas seguradoras. Em um dos golpes, o bando explodiu uma lancha de 50 pés avaliada em R$ 750 mil.
A Operação Navio Fantasma cumpre 12 mandados de busca e apreensão nas regiões do Lago Sul, da Asa Norte, de Vicente Pires, Taguatinga, do Guará, de Águas Claras e do Núcleo Bandeirante. De acordo com as investigações da Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais (Corpatri), os criminosos agiram nos últimos dois anos e forjaram dezenas de acidentes envolvendo BMW, Porsche, entre outros. No total, foram destruídos 10 veículos.
As apurações da DRF apontaram que os acidentes forjados ocorreram no setor de Clubes Esportivos Sul e na DF-140, nas proximidades do Complexo Penitenciário da Papuda, sempre durante a madrugada. Em todos, houve choque proposital da coluna central dos veículos, dano estrutural que conduz necessariamente à perda total.
Lancha destruída
Para dificultar a investigação da PCDF, os registros dos acidentes eram feitos na Delegacia Eletrônica, e os bandidos se revezavam na condição de condutor, segurado (contratante), terceiro envolvido e recebedor da indenização. Com o mesmo objetivo, o grupo criou cinco empresas de fachada, em nome das quais eram registrados os veículos.
Especializado na simulação de acidentes automobilísticos, o grupo inovou em 2019 e incendiou uma embarcação de 50 pés, obtendo vantagem indevida de R$ 750 mil. A embarcação foi incendiada em 11 de dezembro do ano passado, por volta das 20h, às margens do Lago Corumbá, em Caldas Novas (GO).
Apesar da chegada do Corpo de Bombeiros e uma ação rápida, a embarcação de luxo ficou destruída. A apuração envolvendo a lancha também contou com o apoio da Marinha do Brasil.
Modus operandi
A logística usada pela associação criminosa era simples: primeiro, eram adquiridos veículos importados de difícil comercialização. Logo depois, o grupo contratava seguros novos, com valor de indenização correspondente à Tabela Fipe. Em seguida, ocorria a colisão proposital dos veículos, que sofriam perda total.
Por último, o condutor que contratava o seguro assumia a culpa pelo acidente para viabilizar o pagamento dos danos do outro veículo envolvido na colisão, cujo condutor também integrava a associação criminosa. Com isso, operava-se o recebimento dos valores do seguro, baseados na Tabela Fipe, que são superiores aos valores de aquisição dos veículos.
“O mercado segurador está começando a perceber que, diante da indicação de fraude, além da recusa de pagamento da indenização, é necessária a comunicação à polícia judiciária. Atualmente, as empresas de seguro demoram muito a fornecer as informações. São mal assessoradas. Deveriam ser ágeis na prestação das informações requisitadas, mas não é o acontece”, ressaltou o diretor da DRF, delegado Fernando Cocito.
Fonte: Metrópoles, 15/12/2020.