JNS – Jornal Nacional de Seguros

Aumento da longevidade exige cuidados com o futuro financeiro

Carla Simões, superintendente de Comunicação e Marketing da CNseg; Narlon Gutierre Nogueira, do Ministério da Previdência Social; Paulo Miller, analista técnico da Susep; Alcinei Rodrigues, da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc); e Ângela Assis, presidente da Brasilprev e vice-presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi)

Em um Brasil onde a população envelhece rapidamente e vive cada vez mais, a previdência complementar surge como peça-chave para garantir dignidade às próximas gerações. Foi essa a mensagem principal do painel “A importância do engajamento institucional e da visão de longo prazo nos planos de caráter previdenciário para o futuro dos brasileiros”, realizado na última segunda-feira (12), durante o evento “Seguros para Todos: educação financeira, vulnerabilidade socioeconômica e seguros inclusivos”, no auditório do Ministério da Educação, em Brasília, como parte da 12ª Semana Nacional de Educação Financeira (Semana ENEF).
 

O painel reuniu especialistas e representantes do governo para discutir os desafios da previdência em meio à explosão da longevidade, à informalidade crescente e ao imediatismo de uma sociedade cada vez mais seduzida por apostas e prêmios fáceis.
 

Narlon Gutierre Nogueira, do Ministério da Previdência Social, fez um alerta: o Brasil já não é um país jovem. “Estamos vivendo um processo acelerado de envelhecimento populacional, com menos nascimentos, mais informalidade e uma força de trabalho encolhendo.”
 

O ciclo de vida das pessoas, segundo ele, precisa sair do modelo antigo — estudar, trabalhar e se aposentar — para uma lógica mais fluida, com múltiplos ciclos de estudo e trabalho. E isso exige investimentos pessoais contínuos, não só em dinheiro, mas em produtividade, saúde e qualificação ao longo da vida.
 

R$ 240 bilhões em bets, e nada para o futuro
 

Um dos principais questionamentos veio de Ângela Assis, presidente da Brasilprev e vice-presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), que afirmou que “as pessoas dizem que não têm dinheiro para poupar, mas em 2024 gastaram R$ 240 bilhões em apostas nas bets — mais que o dobro do que gastamos com seguros de vida e automóvel.”
 

Segundo pesquisa da FenaPrevi, 65% dos brasileiros acreditam que precisam se preparar financeiramente para o futuro, mas a maioria afirma que não consegue guardar dinheiro. “O imediatismo fala mais alto que o planejamento. Mas se alguém gasta R$ 3 mil por ano em apostas, poderia aplicar R$ 250 por mês em um plano de previdência e garantir um bom complemento de renda no futuro”, completou Ângela.
 

A previdência complementar é para todos

Paulo Miller, analista técnico da Susep, reforçou a necessidade de levar a previdência onde o Estado não consegue mais chegar. “Cada vez mais, dependeremos menos da previdência pública. Precisamos de mecanismos alternativos. E a previdência complementar, especialmente a aberta, pode atender trabalhadores informais e autônomos com planos flexíveis.”
 

Mas por que, então, tantos brasileiros continuam de fora? “Falta educação previdenciária e uma comunicação mais simples. Precisamos começar essa conversa já na educação básica. Hoje, as pessoas não entendem nem os conceitos mais básicos de um plano de previdência”, alertou.
 

Ele destacou ainda iniciativas da Susep para estimular inovação no setor, como o novo laboratório em parceria com o IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), focado em inteligência artificial para seguros e previdência.
 

Planos de previdência para uma vida que não cabe mais em um roteiro fixo

Alcinei Rodrigues, da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), trouxe um recorte sobre os planos fechados de previdência, que hoje acumulam cerca de R$ 1,3 trilhão em reservas e pagam R$ 105 bilhões por ano a cerca de 8 milhões de pessoas (incluindo os beneficiários). O modelo, sólido e tradicional, começa a se transformar. “Com as pessoas trocando de emprego com mais frequência, é mais difícil mantê-las no sistema. O desafio é garantir que esses trabalhadores não tenham uma queda de renda na aposentadoria”.
 

A nova realidade, segundo ele, exige uma reengenharia do setor: planos mais simples, flexíveis e que incentivem o participante a permanecer no sistema, aumentando a contribuição ao longo do tempo.
 

Além de simplificar e educar, o setor também precisa de apoio institucional. Para Ângela Assis, é hora de ampliar os incentivos para que empresas de todos os portes contribuam com a aposentadoria dos seus funcionários. “A previdência complementar é ainda mais importante para quem não é rico. Com R$ 50 por mês, já é possível começar. Mas precisamos tornar isso mais vantajoso também para os empregadores.”
 

Se viver mais é uma dádiva, preparar-se para isso é uma urgência. O painel terminou com uma mensagem clara: o Brasil precisa abandonar o pensamento de país jovem e encarar o futuro com planejamento, inovação e uma nova cultura previdenciária.

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