JNS – Jornal Nacional de Seguros

A adaptação dos produtores ao novo mercado

Paulo Leão de Moura, Charmain da THB Brasil

Artigo escrito por Paulo Leão de Moura Jr, Chairman da THB Brasil

Será que estamos realmente nos preparando para a abertura do mercado na forma pretendida pela SUSEP e grande parte do mercado?

Parece-me que sim. Malgrado colações recentes por representantes muito conservadores que inferem a necessidade legal – e até constitucional – da manutenção de um sistema de controle de mercado rígido e, até mesmo, insinuando o retorno do monopólio estatal de resseguro.

Se até o invencível Trump – que supunha-se imbatível – vai ter que aceitar que seu oponente venceu as eleições norte-americanas, que considerações ocorrerão aos nossos ultraconservadores? Vencer ou reconhecer a necessidade da modernização do mercado? E, finalmente, juntarem-se a maioria e, principalmente, ao consumidor que demanda por bons produtos e serviços.

O setor que mais preocupa, a meu ver, são os “produtores” onde, bem ou mal, eu me incluo. É o pessoal da comercialização, com influência enorme sobre o processo de “venda”. Processo que, até hoje, foi tão prejudicial ao seguro e ao seu desenvolvimento – principalmente no Brasil. De fato, são raros os “produtores” que angariam, assumem, estudam eminentemente os aspectos técnicos característicos e próprios do seguro. Estudam, certamente, os produtos para obter alta competência na argumentação de venda, mas, pouco se empenhando em analisar e conhecer o motivo e a necessidade do segurado-cliente em adquirir o seguro.

Em tempo, surge a proposição da SUSEP que permite ao mercado segurador se livrar dos produtos patenteados, engessados, padronizados de seguro, com sua mesmice horrorosa, onde prevalece o critério “ofereço isto, querendo aderir, preço x”. A adesão às condições é parte integrante do processo de seguro, porém, somente à condição padrão. Pode e deve ser uma adesão às condições previamente acordadas e aceitas livremente entre as partes, obedecida toda a parafernália legal que afeta essa negociação desde a capacidade da seguradora em assumir o risco até a sua responsabilidade em indenizar eventual sinistro.

A partir desse momento, o mercado se transforma. O seguro exige, para ser “vendido”, um mínimo – ou melhor! – o máximo de prestação de serviços. O produto não é mais seguro propriamente dito. O produto, agora, passa a ser o serviço inerente ao seguro para que sua aquisição seja lógica, necessária e legítima. O que faz o seguro necessário?

É exatamente a análise dos riscos que determinará as tratativas a serem dadas a cada um. O instrumento mais eficaz de transferência e financiamento de risco é o seguro.

A partir da abertura, o produto a ser vendido pelos produtores será a consultoria e assessoria de gerenciamento de risco e a administração do programa de seguros consequentes.

Nesse contexto de mudança de foco de produto, é evidente a necessidade de um verniz sobre o que seja gerenciamento de risco, o que é tratativa de risco, o que é controle de risco e, por fim, o conhecimento mínimo para adaptar e negociar condições e cláusulas de seguros aos riscos a ser transferidos ao mercado. Será que os produtores absorveram esses conhecimentos?

Daí para frente cabe aos gerentes de contas e aos setores técnicos da corretora profissional atuarem na negociação ampla da colocação do programa de seguro do cliente e a manter, permanente e perene, o gerenciamento de risco básico e a administração do programa de seguros.

Não se trata aqui de desmistificar o seguro ou a empobrecer a sua qualidade. Seguro continua sendo o melhor instrumento de transferência e financiamento de risco no contexto de gerenciamento de risco básico.

Devemos, no entanto, entender, compreender e, por fim, reconhecer que ele perde um pouco o conceito de prioridade na venda. Passa a ser um coadjuvante no mundo do gerenciamento de risco. O reconhecimento e a avaliação do risco, a incerteza e a consequente necessidade de sua tratativa passam a ser os produtos a serem comercializados, inclusos todos em uma única ação: o gerenciamento de risco.

A transferência do riscos ao seguro passa a ser uma atividade acoplada à principal que resulta da administração do programa de seguros. A gerência de risco e a administração de programa de seguros estão permanentemente entrelaçadas, uma vez que, a análise de risco e tratativa de riscos determinam o programa de seguros que, por sua vez, deve sempre estar atualizado e adequado à evolução dos riscos tratados.

Assim, percebo que alguns produtores mantém a posição inflexível e própria dos americanos – “business, as usual” – o “como sempre, negócios” e não estão procurando se atualizar aos novos tempos. Talvez, por não acreditarem na abertura a ser lançada pela SUSEP; ou por não entenderem o que significará o resultado desta implantação.

Já nas áreas técnicas – que executam os serviços comercializados pelos produtores, e as áreas de ‘gerentes de contas’ que administram a adequação permanente dos programas de seguros – percebemos uma rápida adequação para assumir as novas atividades, especialmente o gerenciamento de risco. Tenho visto profissionais experientes das áreas técnicas participando de cursos de ERM estimulando o desenvolvimento de serviços amplos no futuro.

O nível de exigência dos segurados é que certamente irá impactar na postura dos produtores. A demanda por prestação de serviços sérios e eficazes que respondam plenamente as necessidades de solução dos problemas das tratativas dos seus riscos é que impulsionará a adequação dos produtores aos novos tempos.

Já verificamos grandes segurados exigindo contratos de consultoria e assessoria técnica para gerenciamento de risco e administração de seguros, o que nos leva a preocupação ante o pouco caso das áreas de produção e comercial em se adaptar aos novos tempos.

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